sábado, 12 de abril de 2014

Outono

A aluna Ana Carolina faz aniversário em março, no mesmo dia em que se inicia o outono. Falei sobre isso na sala e as crianças demonstraram um interesse muito grande pelo outono. Muitos diziam que era a estação das frutas, passaram a fazer perguntas, como: O que vai acontecer no outono? Como se fosse haver uma grande mudança. Também já havia percebido o interesse deles pelo calendário, desde quando começamos a pensar sobre os aniversários. Então, resolvi dar asas a essa motivação.

No dia seguinte levei várias imagens dos quadros de Giuseppe Arcimboldo, alguns da coleção As quatro estações.  As crianças gostaram muito. Queriam desvendar quais elementos foram utilizados nos diversos quadros. Um quadro chamou muita atenção: Tigela de legumes ou jardineiro. Quando está numa determinada disposição parece uma tigela cheia de alimentos, mas quando é virado ao contrário parece o rosto de uma pessoa. Bem interessante e eles adoraram ficar virando a imagem.

Propus ao grupo que fizéssemos algo parecido, que cada um pudesse criar o que quisesse, de acordo com sua criatividade.  As crianças logo indicaram o uso de frutas por conta do tal outono!

Ana: Então, vocês aceitaram a minha proposta de criar uma obra de arte inspirados em Arcimboldo e indicaram frutas. Vamos ter que pedir para as mães, certo?

Pedro: Eu sei pedir para a minha mãe!

Acho que Pedro já estava adivinhando que faríamos um bilhete e já estava tentando escapar da ideia, mas Melissa me salvou!

Melissa: Ah, mas tem que mandar o bilhete se não esquece igual a garrafa.

Ana: Todos acham isso importante?

Todos: Sim!

Ana: Como começamos?

Sarah: Tem que colocar a data de hoje para a mãe saber quando que escreveu.

Leo: Tem que colocar o local.

Melissa: Não, local é pro convite!

Leo: Ah, é!

Emanuel: Mamãe, preciso de uma fruta para levar para a escola. Obrigado, mamãe.

Sarah: Não, cada um tem que colocar o seu nome embaixo e não mamãe!

Larissa: Tem que explicar pra quê serve a fruta.

Ana: Olha que interessante que a Larissa está falando. Lembra da garrafa que ninguém pensou pra que ia servir. Então, vamos escrever o motivo para trazer a fruta?

Pedro: Nós vamos comemorar o início do outono e vamos fazer quadros iguais do Arcimboldo.

Maria Luiza: E vai ser o aniversário da Ana Carolina também.

Ana: Então como vamos escrever?


No dia estipulado as crianças chegaram muito animadas com suas frutas. Depois de picadas começamos o trabalho. Todos os alunos adoraram criar uma arte com frutas. Alguns até arriscaram a criação de um rosto. Melissa disse que esse era um dia muito feliz para ela! Coisas simples, mas que agradam as crianças em cheio porque elas estão sentindo-se protagonistas, estão vivenciando ações prazerosas.


Lemos o texto Outono. Através desse texto descobrimos várias coisas, entre elas: Os dias são mais curtos e as noites mais longas. As folhas ficam amareladas e caem porque ficam sem nutrientes. A incidência do Sol é menor e, portanto, o clima fica mais ameno e há um aumento nas colheitas.  As crianças mostraram o que aprenderam através de desenhos!




Mostrei os Planetas do Sistema Solar e o Sol para que pensássemos nos movimentos da Terra. Trabalhamos com o conceito de ciclo e relembramos os meses do ano.  Também ouvimos Dança dos movimentos da Terra, de Bia Bedran.


Ana: O que vocês aprenderam sobre o outono?

Emanuel: É o tempo das frutas.

Willian: As folhas das árvores ficam amareladas.

Thierry: As folhas caem.

Gabriel: É outono porque ficam amareladas.

Larissa: Porque venta.

Willian: Não, as folhas ficam sem nutrientes.

Ana: O que é nutriente?

Willian: É o que ela come.

Ana: E o que mais?

Maria Cecília: Vai ficar mais frio agora.

Ana: Por que?

Leonardo: Porque chegou o outono!

Maria Cecília: Porque ele se afastou do Sol.

Ana: Ele quem?

Maria Cecília: O Planeta Terra.

Gabriel: As noites vão ficar mais longas e os dias mais curtos. A gente vai poder sentir isso.

Ana: Vai continuar tendo Sol?

Maria Cecília: Vai, mas não vai ser tão quente.

Ana: E por que não tem Sol agora?

Maria Cecília: Porque as nuvens estão tampando.

João: Está nublado!

Ana: O Emanuel disse que é o tempo das frutas. Por quê?

Emanuel: As frutas ficam pretas no outono.

Gabriel: Não, nessa época as folhas ficam amareladas.

Maria Cecília:  É porque as frutas nascem.

Ana: Olha o que a Maria está dizendo... Nessa época as frutas nascem?

Kethlen: Não, a gente pega pra comer.

Emanuel: Ah, elas ficam maduras. A gente compra pra comer.

Ana: E antes de comprar?

Emanuel: Colhe!

Ana: Então, depois de tudo isso que vocês falaram, por que muita gente diz que o outono é a estação das frutas?

Emanuel: Porque no outono se colhe pra comer.

Ana: E quem colhe?

Emanuel: O colhedor.

Ana: Será que é só na época do outono que se colhe?

Gabriel: Não, nas outras também tem frutas! Agora tem muito caqui, carambola e maçã.

Ana: Ainda mais num país tropical, mas isso já é outra história!!! 

Tentei mostrar para as crianças, através de textos informativos, que nessa época do ano há muitas colheitas, mas isso precisa ser bem explorado pelo grupo, pois pode ficar a falsa ideia de que só há colheita no outono. Além disso, como bem disse Adriana Botafogo, numa conversa que tivemos, no Brasil, país tropical, há frutas sempre, muita variedade. Portanto, esse termo “estação das frutas”  precisa ser bem pensado, né? 

Aproveitamos os nomes das frutas para fazermos diversas atividades indicando as letras iniciais, finais. Existem muitas frutas que começam com a letra M, como: maçã, morango, maracujá, manga, melancia... Dá pra lançar bons desafios para as crianças.



Através de leituras de informativos sobre Arcimboldo, montamos uma ficha com alguns dados do pintor e um painel com as fotos das "artes".



Eu não tenho o hábito, e inclusive nem gosto de trabalhar com datas, comemorações. Meu trabalho baseia-se em projetos e dali vamos aprendemos outras coisas a partir das relações que fazemos com os conteúdos. “Rizomática” como diz minha amiga Lica Araújo, mas esse assunto veio também do interesse das próprias crianças. Tenho pensado e  repensado muito sobre currículo. E por acaso, hoje, li um citação de Loris Malaguzzi sobre os professores de Reggio Emilia que diz assim:

“Os professores seguem as crianças, não seguem planos. Os objetivos são importantes e não serão perdidos de vista, mas o porquê e como se chegar até eles são mais importantes.”

Penso que é bem por aí! E eu quero ouvir mais as crianças e ter sempre menos certezas. É provável que seja um caminho. Entretanto, uma coisa é certa: Não dá pra ser superficial! 



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